Catador de recicláveis devolve celular para dono e ganha festa de aniversário para a filha em MG: ‘Não tinha condições’

Moradores de Campo Belo decidiram ajudar após trabalhador não receber nem um ‘obrigado’ de proprietário do aparelho.
Um catador de recicláveis de Campo Belo (MG) que decidiu devolver um aparelho de celular para o proprietário após pedir a ajuda a um pastor, ganhou uma recompensa inusitada pelo gesto nobre. Do dono do aparelho, ele não ganhou nem um “obrigado”, mas sensibilizados com a história, moradores se uniram e realizaram um desejo: dar uma boneca e promover uma festa de aniversário para a filha dele, de apenas 10 anos.
Tudo começou quando o catador Fernando Henrique Soares, de 50 anos, caminhava pelas ruas da cidade em busca de recicláveis em mais um dia de trabalho. Perto do campo do Botafogo, ele encontrou o aparelho, um Iphone e um cartão bancário.
“Pensei só em devolver. Logo eu pensei: o ‘trem’ não é meu, pensei que a pessoa que perdeu deveria estar preocupada com o negócio. Aí eu guardei”, disse seu Fernando por telefone ao G1.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/I/J/LGj65sSVGugmRgNRB6mQ/catador2.jpeg)
Catador de recicláveis, que faz tratamento contra o câncer, trabalha para sustentar os filhos em MG — Foto: Kelly Cristina Martins / Diário Campo Belo
O trabalhador, que tem problemas auditivos e ainda por cima sofre de um câncer e faz tratamentos como quimioterapia e hemodiálise, anda pela cidade com seu carrinho recolhendo recicláveis para viver. Separado, mora em uma casa humilde e tem a guarda compartilhada de dois filhos, uma menina de 10 e um menino de 11 anos. É do trabalho com os recicláveis que também tira o sustento dos filhos.
Depois de guardar o celular, ele decidiu procurar o pastor da Comunidade Cristã de Campo Belo, Sérgio Luiz Silva, para pedir ajuda para localizar o dono. Uma ligação do pastor para a jornalista Kelly Cristina Martins, do Diário de Campo Belo, deu vida à história.
“Ele entrou em contato, deu o endereço do ‘seo’ Fernando e eu fui até a casa dele. Ele contou a história dele, disse que queria entregar para o dono e publiquei a matéria. O dono apareceu através de um outro contato, que me pediu o endereço e depois ele foi lá, pegou o aparelho e foi embora”, contou a jornalista ao G1.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/5/u/rQ3tbbRMWTkGStAA7Ijw/mariafernanda.jpeg)
Maria Fernanda, de 10 anos, ganhou festa após comunidade atender a desejo do pai catador de recicláveis — Foto: Kelly Cristina Martins / Diário Campo Belo
Antes do dono aparecer, outras pessoas chegaram a procurar o catador, mas ele exigiu que a pessoa colocasse a senha e mostrasse que o telefone realmente fosse dela.
“Teve um que teve antes e tentou colocar a senha três vezes. Mas eu não deixei levar”, contou o catador.
Pouco tempo depois, o verdadeiro proprietário apareceu. Ele pegou o celular, colocou a senha correta e foi embora. Não houve recompensa, nem um “obrigado”. Ao falar novamente com o pastor, o catador avisou que o aparelho tinha sido entregue.
Questionado se havia ganhado alguma recompensa, o catador disse que não. Para o pastor, acabou confidenciando que tinha essa esperança, já que a filha de 10 anos havia acabado de fazer aniversário e queria uma boneca.
Mais uma vez o pastor ligou para a jornalista, que resolveu postar a história em grupos de leitores do jornal. O objetivo: realizar o sonho da menina Maria Fernanda. A história começou a mudar.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/K/t/XxyDJySiOwuTrPy20e7A/catador3.jpeg)
Catador de recicláveis pediu ajuda de pastor para devolver aparelho encontrado em MG — Foto: Kelly Cristina Martins / Diário Campo Belo
“Inesperadamente leitores e seguidores do diário começaram a mandar mensagens no privado e nos grupos. Um dizia que dava o bolo, o outro o salgado, o outro o refrigerante, o arco do bolo, o balão. Um resolveu fazer uma camiseta com o nome dela, o outro decidiu comprar um short para ela usar no dia da festa. A dona de um salão ofereceu um ‘Dia de Princesa’ para Maria Fernanda”, contou a jornalista Kelly.
Da noite para o dia, Maria Fernanda, que pediu ao pai catador uma boneca, tinha uma festa. Junto com amigos, a jornalista passou a arrecadar as doações.
“Peguei a Maria Fernanda, levei ela para o salão e de lá levei ela para a festa. A mãe exigiu que fosse na casa dela.
Os olhos da Maria Fernanda brilhavam. Ela ganhou uma boneca também. Foi tudo mágico, tudo maravilhoso”, contou a jornalista.
Separado da mãe da menina, ‘seo’ Fernando não pôde participar da festa. Mas a verdadeira recompensa que ele desejava, ele já tinha ganhado.
“Achei bom porque eu não tinha condições de dar pra ela. Ela pediu uma boneca. Estava preocupado. Graças a Deus”, disse ao G1.
Para o pastor Sérgio, a atitude do catador não foi novidade. A honestidade do homem já tinha chamado a atenção dele anteriormente quando o ajudou com cestas básicas e outros alimentos.
“Ele não pede um pacote a mais. Se ele tem arroz, ele só pede o açúcar. A situação dele é de herói. Com câncer no reto, puxar um carrinho para ajudar a família. Ele é um herói!”, concluiu o pastor.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/J/v/MQ7kj0TRWQyLAni42MsA/pastor.jpeg)
O catador Fernando e o pastor Sergio: “Situação de herói” — Foto: Arquivo Pessoal / Sérgio Luiz Silva
G1 Sul de Minas