Primeira princesa da festa do vinho, uma tradição que começou em 1954
Matéria publicada na edição 950 20/07/2018
A 1ª Festa do Vinho, realizada de 25 de julho a 1º de agosto de 1954 nomeou também rainha e princesas, uma inesquecível história de glamour
Uma tradicional festa que começou em 1954, hoje realiza a 53ª edição. Marcada pelos vinhos da cidade de Andradas e pela beleza e simpatia da mulher andradense composta em todas as cortes, é uma festa que busca resgatar a cultura e trazer os sabores de um bom vinho.
A equipe de reportagem teve o privilégio de conversar com a senhora Dioneia Ortega Borges, a primeira princesa a ser coroada na Festa do Vinho. Com uma história recheada de boas memórias ela nos conta qual o sentimento de ser lembrada, agora com 78 anos, casada com o senhor Veronil Geova Borges e mãe de um casal Roseane Ortega Borges e Anderson Junior Borges. “A primeira festa aconteceu em 1954 quando eu tinha 14 anos. Foi em um barracão de sapé, onde é atualmente o Teatro Municipal. Na época que fui princesa não se fazia concurso com o número de candidatas que se faz hoje. Tinha-se, no caso eu, Ana Maria Barroso e Maria Andrade. Nós tínhamos que sair em todas as cidades da região, estados de Minas e São Paulo, como São João da Boa Vista, Águas da Prata, Ibitiura de Minas, Poços de Caldas, Santa Rita, Caldas, entre muitas outras e tínhamos que vender votos, e depois quem tivesse mais ganhava”.
Ela se recorda de suas duas parceiras na corte, pelas quais tem um enorme carinho e reconhecimento de todos os anos que tiveram de amizade, e relata que foi muito merecido a sua amiga, e mais tarde tia, ser coroada Rainha da 1º Festa do Vinho. “A tia Ana Maria, que mais tarde se casou com meu tio, ficou então como rainha da festa de 1954, por merecimento, porque o pai dela também fabricava vinho, então foi muito justo. Depois que saíamos para pedir os votos era feito a contagem deles. E assim ficou Ana Maria como rainha do Vinho, eu como princesa e Maria Andrade como princesa. Ana Maria possuía o título de rainha da Uva, eu como rainha da Batata e Maria como rainha do Café. Ana Maria ficou muitos anos, até sua morte, representando Andradas como rainha do Vinho”.
Senhora Dioneia não deixa de se lembrar de como era o som da festa, com animadas e bonitas orquestras, ela se divertia juntamente com amigas e familiares até o final. “As músicas da festa eram tocadas por orquestras de Campinas, cada noite uma tocava e depois tinha o baile. Saímos cinco horas da manhã. Os oito dias de Festa do Vinho naquela época eram todos os dias muito bonitos, era muito frio, as mulheres iam todas de casaco de pele, era uma festa muito chique”.
Com uma proporção muito maior, a festa de hoje já toma conta de todas as idades. Dona Dioneia conta como era a festa há 53 edições. “A festa hoje em dia se tornou muito abrangente, então ela pega desde criança, jovens até idosos, o número maior composto pela moçada, se tornou uma festa muito grande. Por exemplo, se quiséssemos voltar para o Pavilhão não comportaria mais. Na primeira Festa do Vinho se via muito luxo, era considerada uma senhora festa”.
Dada tão grande importância, a primeira festa trouxe para o município grandes nomes de políticos da época. A princesa nos esclarece que o papel dado a elas era menos “trabalhoso”. “No último dia da festa compareceu em Andradas Juscelino Kubitschek junto com seu ministro e mais alguns acompanhantes. Na época, o papel de princesa na festa era mais tranquilo, trabalhávamos bastante durante a festa, hoje tem que cobrir eventos da cidade representando onde tiver que ir”.
Lembranças e histórias boas jamais serão apagadas, e olha que o papel de princesa da primeira Festa do Vinho não foi esquecida pelo pessoal daquele tempo, completa Dioneia, se recordando de um fato. “Deus está me dando chance dessa entrevista. Foi muito gostoso passar uma situação que passei depois de velha. Estava andado na rua quando um amigo me parou e me chamou, oi princesa, e eu assustada perguntei a ele: princesa do quê? Ele deu risada e me disse que se lembrava da festa. É gratificante poder saber que está marcada na história de Andradas, e marcou muito para mim porque foi muito bom, onde pude curtir muito. Aproveitei com meu pai João Ortega Santa Marina e minha mãe Florice Sanches Ortega, porque eles eram obrigados a ir, e saíamos no final da festa, depois que acabava tudo”.
É uma tradição que não pode acabar, pois leva o nome de Andradas e a cultura que temos. Durante a entrevista perguntou-se sobre o vinho para senhora Dioneia e a resposta foi certeira. “Gosto muito de vinho, sou admiradora da bebida, pena agora não poder beber muito, mas já bebi bastante. Lembro que na época eles davam uma caneca de barro na entrada e aí você bebia a vontade, com todas as marcas de vinho existentes naquele tempo”.
Para finalizar a Primeira Princesa deixa sua clara sua opinião de todas as cortes que já passaram e de todas que ainda virão, e conclui sua felicidade em poder fazer parte dessa tradição tão bonita. “Todas que participaram, que passaram pela corte da festa hoje vivem suas vidas e até aquelas que irão participar nunca se esqueçam que são verdadeiras damas. Foi muito trabalho, muito cansativo, mas a experiência valeu a pena e a recordação que fica é inexplicável e inesquecível”.